segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Reflexão sumária sobre Pedagogia do ELearning

Segundo Humbert Pinto, a pedagogia, enquanto teoria da educação, tem uma importância incontestável na orientação da prática educativa. Podemos identificar a pedagogia como o campo de conhecimento que se debruça sobre e na educação. Podemos considerá-la campo de conhecimento porque a sua esfera de atuação não se prende apenas com teorias científicas mas envolve outras formas e tipos de saberes. Porquê sobre a educação? Porque teoriza e sistematiza as práticas educativas que se vão registando ao longo dos tempos e articula-as com saberes que vão sendo produzidos. Porquê na educação? Porque se materializa nas práticas educativas que constituem os pilares da atuação dos educadores e formadores, no exercício da sua prática docente.
Segundo Azevedo, quando nos referimos a pedagogia do elearning, estamos a focar um campo específico da pedagogia que estuda o processo de ensino/aprendizagem em ambientes online. Quando falamos em processo ensino/aprendizagem, colocamos o enfoque num processo de construção do conhecimento que se deseja coletivo e que surge em todos os ângulos que o perspetivam; não aprende apenas o educando, mas também o educador. A aprendizagem é um fenómeno complexo, baseado em múltiplas interações e que deve ser objeto de preocupação do docente, em particular do docente online. A especificidade da pedagogia do elearning tem a ver com o facto de neste tipo de ensino se utilizarem tecnologias que permitem novas formas de interação com os conteúdos informativos e entre formandos e formadores.
A partir do momento em que nos embrenhamos em ambientes online, percebemos que, para além da informação que é disponibilizada, é muito importante a utilização de recursos de comunicação interpessoal que as novas tecnologias possibilitam, que nos permitam a troca de ideias e o contacto com outras fontes de saber, com novas perspetivas, que nos enriqueçam a vários níveis.
Subjacente ao conceito de pedagogia, encontramos o conceito de modelo pedagógico, sendo este um dos conceitos mais importantes dado que permite comparar, simular e compreender fenómenos a partir da construção desse modelo; evidencia-se, assim, como uma representação mental compartilhada de um conjunto de relações que definem um fenómeno e que o interpretam à luz de determinado construto teórico. Embora um modelo pedagógico possa ser inspirado numa ou em mais teorias de aprendizagem, normalmente reflete um paradigma vigente sustentado por um suporte teórico.
Podemos questionar, neste momento da reflexão, qual o modelo que melhor serve os interesses do ensino a distância e qual a pedagogia mais eficiente a aplicar nas práticas docentes deste tipo de ensino.
Com o objetivo de chegar a uma conclusão plausível, analisemos as três pedagogias que Anderson propõe no seu artigo Three generations of distance education pedagogy, embora Conole no seu trabalho Review of Pedagogical Models And Their Use In Elearning as perspective de uma forma mais abrangente: a pedagogia cognitivista e behaviorista, a pedagogia socioconstrutivista e, finalmente a pedagogia conectivista.

A pedagogia cognitivobehaviorista, apoiada nos estudos de Watson, Thordike e Skinner, defende o livre acesso à educação por todos, fornecendo uma formação low cost. No entanto, o processo excessivamente estruturado da formação reduz significativamente a presença social e a presença de ensino, enfatizando-se excessivamente a cognição como motor da aprendizagem.

A pedagogia socioconstrutivista sustenta que a construção do conhecimento é individual e responsabilidade do sujeito aprendente. Com raízes no pensamento de Vygotsky e Dewey, defensores da construção de conhecimento por scaffolding, a pedagogia socioconstrutivista apoia-se na tecnologia para criar oportunidades para a comunicação síncrona e assíncrona que facilitem a comunicação entre educandos e entre educandos e educadores. O educador é encarado como um mediador da aprendizagem, um facilitador de recursos, tendo o aprendente o principal papel na construção do seu saber através das interações que estabelece com os conteúdos e com os outros aprendentes e mesmo com o seu tutor. No entanto, esta perspetiva é onerosa, depende em excesso da tecnologia e utiliza meios que constituem uma sobrecarga para a instituição que a suporta.

A pedagogia conectivista, sustentada nos princípios defendidos por Siemens ou Downes, advoga que a aprendizagem é um processo desenvolvido e potenciado através da utilização das redes de informação, contactos e recursos que nos permitam responder com eficácia aos problemas com que nos deparamos diariamente. Não se trata de exercitar a memória, mas de desenvolver competências para procurar e encontrar aplicações que permitam solucionar múltiplas questões. No entanto, nem todos os indivíduos têm a capacidade financeira ou estrutural para acederem à tecnologia necessária para a aquisição de conhecimento através de redes ligadas por interesses comuns. A dificuldade em aprender múltiplas tecnologias, a aprendizagem da navegação no ciberespaço, a falta de competência digital, a falta de cultura em geral, podem constituir entraves para a aprendizagem e podem ser fatores redutores da motivação.
Em suma, nenhum modelo pedagógico fornece todas as respostas para todas as questões… Cada um dos modelos, cada pedagogia apresentada, exibe pontos fortes e pontos fracos, pontos redutores e pontos potenciadores de uma aprendizagem consistente em ensino a distância. Qual o ponto de equilíbrio?
O mais sensato será aproveitar o que cada modelo apresenta como favorável e adaptá-lo a cada situação e às particularidades que cada momento de aprendizagem apresenta. O mais importante é não ser excludente em relação a cada proposta pedagógica mas aproveitar o que de melhor cada uma oferece para potenciar o desenvolvimento do estudante em cada passo da sua aprendizagem. A cognição deve ser considerada como um elemento importante na formação, mas não deve ser exacerbada… A interação com os outros como elemento potenciador das aprendizagens é importante mas não deve excluir os momentos de reflexão pessoal… A tecnologia proporciona vantagens em termos de comunicação e obtenção de conhecimento através das redes de informação, mas não é a única forma de aprender… Em educação tudo tem o seu peso…

Referências Bibliográficas

Anderson, Terry & Dron, Jon (2011). Three generations of distance education pedagogy. IRRODL.
http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/890.


Azevedo, Wilson. Elearning como elemento de Integração no Processo Educacional.

Connole, Grainne (2011). Review of Pedagogical Models And Their Use In Elearning.

4 comentários:

  1. Olá Estela,
    Concordo inteiramente contigo quando referes que "A tecnologia proporciona vantagens em termos de comunicação e obtenção de conhecimento através das redes de informação, mas não é a única forma de aprender…". Sendo um dos objetivos principais da educação à distância levar a aprendizagem/conhecimento a indivíduos impossibilitados de frequentar o ensino presencial por N razões, cabe a quem estrutura estes ambientes de aprendizagem não perderem o foco principal, o aluno, e elaborarem formas de ensino que façam sentido em cada realidade sócio-económica. Parabéns pelo post.
    Bjs, Débora

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  2. Olá Estela,

    Concordo inteiramente contigo quando dizes que "O mais importante é não ser excludente em relação a cada proposta pedagógica mas aproveitar o que de melhor cada uma oferece para potenciar o desenvolvimento do estudante em cada passo da sua aprendizagem."
    Não devemos excluir nenhum modelo ou considerá-lo obsoleto, pois podem-nos ajudar em várias situações.

    Gostei muito da caracterização das pedagogias apresentadas.

    O post está muito bonito do ponto de vista visual.

    Parabéns!

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  3. Parabéns Estela pelo post, apreciei especialmente o foco dado sobre pedagogia para então depois partir para os textos a trabalhar neste tema.
    Até já
    [] Filomena Pestana

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  4. O trabalho da Estela, que considero muito bom, inicialmente posiciona-se na identificação da Pedagogia e na Pedagogia do E-learning para nos introduzir de seguida na análise das três pedagogias de Anderson de forma sucinta e bem estruturada, com enfoque no processo ensino/aprendizagem, no papel do professor/educando e nos modelos da pedagogia do Elearning subjacentes à influência tecnológica. “O mais sensato será aproveitar o que cada modelo apresenta como favorável e adaptá-lo a cada situação e às particularidades que cada momento de aprendizagem apresenta”, revelando que os modelos defendidos pelo autor não são estanques mas flexíveis e adaptáveis às características de cada aprendente.

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