domingo, 20 de novembro de 2011

Métodos de Recolha de Dados - A Entrevista (1ª Parte)


Moser e Kalton (1971, pp. 271) descrevem a entrevista como “uma conversa entre um entrevistador e um entrevistado que tem o objetivo de extrair determinada informação do entrevistado”.

“A grande vantagem da entrevista é a sua adaptabilidade. Um entrevistador habilidoso consegue explorar determinadas ideias, testar respostas, investigar motivos e sentimentos, coisa que o inquérito nunca poderá fazer.” (Bell, 2010, pp.137)

“Escolher uma entrevista é optar por determinadas condições metodológicas:

- Uma relação verbal entre o investigador e a pessoa interrogada: essa relação pode ser direta (frente a frente) ou indireta (por telefone, por exemplo);

- Uma entrevista provocada pelo investigador: neste aspeto, a situação da  entrevista comporta uma parte de artificialismo, distinguindo-se do modo habitual de comunicação que aqueles que, integrando-se na população estudada, realizam observação direta procuram preservar;

- Uma entrevista para fins de investigação: distingue-se da entrevista terapêutica ou de apoio, cujo objetivo é levar a pessoa que se exprime a resolver o seu problema;

- Uma entrevista baseada na utilização de um guião de entrevista para colocar o entrevistado em condições de se exprimir, seguindo o curso do seu pensamento; em contrapartida, o método por questionário supõe que o investigador já conhece a forma como a questão tratada é apreendida pelo público visado, de modo a não formular questões inoperantes;

- Uma entrevista numa perspetiva intensiva, em que se trata sobretudo de conhecer em profundidade reações da pessoa e detetar processos (por exemplo, as diferentes etapas que conduzem à marginalização).

Um estudo extensivo, incidindo sobre um grande número de indivíduos e destinado a medir frequências, não é realizável por meio de uma entrevista.” (Albarello, 2005, pp.86 e 87)

“Em termos globais, o objetivo de qualquer entrevista é abrir a área livre dos dois interlocutores no que respeita à matéria da entrevista, reduzindo, por consequência, a área secreta do entrevistado e a área cega do entrevistador.” (Carmo, 2008, pp.142)

Para atingir esta meta é necessário reduzirmos a nossa área secreta aplicando a regra da reciprocidade. Podemos elaborar uma apresentação que reúna três vertentes: a apresentação do investigador; a apresentação do problema da pesquisa; a explicação do papel pedido ao entrevistado.

A entrevista é uma interação direta ou presencial o que faz surgir três problemas eminentes e que se entrecruzam: a influência do entrevistador no entrevistado; as diferenças da mais variada ordem que podem existir entre o entrevistador e o entrevistado; a sobreposição de canais de comunicação.

Existe sempre uma visível assimetria entre os dois interlocutores, normalmente associada a uma diferença de estatuto que limita a comunicação e inibe o entrevistado de comunicar abertamente. Por outro lado, o entrevistador pode induzir, através de formas enfáticas de questionar ou excluindo possíveis linhas de raciocínio, o entrevistado a responder ao que se deseja e não ao que este pretende.

As questões culturais não devem ser menosprezadas quando ocorre uma entrevista; quando os dois interlocutores são originários de sistemas culturais substancialmente diferentes, podem surgir malentendidos que devem ser previstos com antecedência aquando a elaboração do guião da entrevista.

A entrevista é composta por diversas questões que devem ser elaboradas e apresentadas ao entrevistado tendo em atenção que a sobreposição de canais de comunicação pode ser nefasta no processo de obtenção de informação, uma vez que pode ser revelado ao entrevistado o que se espera obter como resposta; todas as situações devem ser previstas quando se prepara o guião da entrevista.

Este método de recolha de dados, permite ganhar tempo numa investigação e é um excelente recurso de obtenção de dados quando não encontramos uma resposta credível para as nossas questões de fundo.

“Há várias maneiras de fazer uma entrevista. Tradicionalmente classificam-se as entrevistas segundo o grau de diretividade – ou melhor, de não diretividade – e, por conseguinte, segundo a profundidade do material verbal recolhido. Entrevistas não diretivas de uma ou duas horas, que necessitam de uma prática psicológica confirmada, ou entrevistas não diretivas (também chamadas com plano, com guia, com grelha, focalizadas, semiestruturadas), mais curtas e mais fáceis: seja qual for o caso, devem ser registadas e integralmente transcritas, incluindo hesitações, risos, silêncios, bem como estímulos do entrevistador.” (Bardin, 2009, pp. 89)

Em termos gerais podemos considerar três fases importantes no decorrer de uma entrevista: o antes, o durante e o depois do trabalho.

Segundo Carmo (2008), antes da entrevista é importante definir objetivos, construir o guião, escolher os entrevistados e preparar os mesmos para o que se espera que seja a sua contribuição para o estudo será desenvolvido.

Durante a entrevista, tem de ter-se em atenção alguns elementos importantes. Vejamos em pormenor quais os aspetos a ter em linha de conta:

Primeiros passos – iniciar a entrevista formulando uma breve síntese que sirva de enquadramento às questões que se seguirão e ao propósito da investigação; a escolha da questão que abrirá a entrevista é fundamental porque deve ser uma questão que estabeleça um bom clima relacional.

Saber escutar – o entrevistado deve sentir-se escutado, entendido nas suas afirmações pelo que as questões ditas de aquecimento são importantes; outro aspeto importante é a gestão de algum silêncio ocasional.

Controlar o fluxo da informação – o controlo do fluxo de informação pode ser feito através de perguntas de focagem ou de enfoque.

Enquadrar as perguntas melindrosas – estas devem ser colocadas no final da entrevista.

Depois da entrevista, devem registar-se as observações sobre o comportamento verbal e não verbal do entrevistado, bem como registar a forma como o ambiente decorreu e o tipo de relação estabelecida entre as partes. No final procede-se à análise do conteúdo.    

Referências bibliográficas

Albarello, L.; Digneffe, F.; Hiernaux, J.; Maroy, C.; Ruquoy, D.; Saint-Georges, P., (2005), “Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais”, Trajectos, Gradiva, Lisboa.

Bardin, L., (2009), “Análise de Conteúdo”, Edições 70, Lisboa.

Bell, J., (2010), “Como realizar um Projecto de Investigação”, 5ª Edição, Trajectos, Gradiva, Lisboa.

Carmo, H.; Ferreira, M.,(2008), “Metodologia da Investigação – Guia para a Autoaprendizagem”, 2ª Edição. Universidade Aberta. Lisboa.

Moser, C.A., e  Kalton, G., (1971), “Survey Methods in Social Investigation”, 2ª edição, Londres, Heinemann.

Sem comentários:

Enviar um comentário