sábado, 18 de junho de 2011

Uma reflexão pessoal sobre a autenticidade e transparência na rede


Vivemos na era da globalização, marcada por muitos fenómenos até aqui desconhecidos e que vêm assumindo proporções com as quais, por vezes, se revela difícil de lidar emergindo, portanto, a urgência de parar para reflectir sobre o que nos rodeia e sobre o nosso papel em todas estas mudanças a que vimos assistindo e que se manifestam imparáveis.
Vivemos numa época marcada pela diversidade de culturas e ideologias, conectadas em rede através da internet, assumindo a mesma um papel determinante na organização da sociedade tal como a vislumbramos.
A Internet possibilita e potencia a criação de redes sociais que se afirmam como uma nova forma de interagir, uma nova forma do ser humano se organizar para debater diferentes pontos de vista, diferentes temas, quer sejam eles de carácter político, educacional, religioso, social, entre uma infinidade de outros.
Estamos diante uma sociedade que privilegia a informação; constantemente se introduzem na rede novas informações, que geram novos inputs, mais reflexão, que por sua vez gera mais produção de documentação, mais construção de conhecimento…
O conceito de sociedade em rede aplica-se à teia complexa onde proliferam informações, em constante e rápida mutação, que permitem interacções e relações de cariz muito amplo, gerando laços de interdependência entre os indivíduos a quem é permitido uma grande liberdade de expressão, uma enorme liberalização de ideias e de estados de espírito, bem como o acesso a todo o tipo de informação.
Mas, tomando como premissa a argumentação anterior, coloca-se a seguinte questão: quem somos nós nesta teia complexa que é a rede e que identidade transparecemos aos outros? Quem são os outros com os quais interagimos? Podemos esperar transparência da parte dos outros?
Tomando a identidade como um conceito, verifica-se que este diz respeito tanto a uma certa imagem que o indivíduo tem de si, como aquela que o outro faz dele. O processo pelo qual os outros reconhecem as singularidades do indivíduo, os traços físicos, emocionais, intelectuais, grupais e comunitários, é a construção da identidade individual. Consequentemente, podemos definir identidade como um processo de apresentação e atribuição de qualidades a um sujeito, segundo a sua cultura, atitudes, aparência e valores.
Com a Internet os processos de construção identitária vêm ganhando uma nova forma. A rede possibilita a um número maior de pessoas a oportunidade de se relatar, garante maior liberdade de se mostrar ou de construir a própria identidade.
"Pede-lhe para acreditar que o personagem que vêem no momento possui os atributos que aparenta possuir, que o papel que representa terá as consequências implicitamente pretendidas por ele e que, de um modo geral, as coisas são o que parecem ser." (Goffman, 2003:25)
A identidade virtual é determinada por cada um, de acordo com a forma como utiliza a rede e a tecnologia. Só somos transparentes se a nossa identidade for genuína, autêntica… Caso contrário, seremos o que desejarmos ser de acordo com os diferentes contextos virtuais em que nos inserirmos; diferentes contextos, diferentes identidades… Os homens constroem os seus fenómenos, participam activamente da construção identitária no mundo físico; consequentemente, é natural que construam identidades virtuais que sejam o reflexo do que são, ou do que ambicionam ser na vida real.
Lévy desmistifica uma falsa oposição entre o real e o virtual. Virtual, deve ser considerado como algo que existe em potência; "complexo problemático, o nó de tendências ou de forças que acompanha uma situação, um acontecimento, um objecto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resolução, a actualização.". (Lévy, 1996: 16)
A Internet é um infinito repositório de conhecimento que todos consultamos com o objectivo de alcançar determinado fim. Existem múltiplos conteúdos abertos, múltiplas informações, uma produção incomensurável de informação impossível de controlar, de validar… Quer Lévy, quer Castells defendem a auto-regulação da rede; esta validação de conteúdos não se executa apenas porque a fonte autoral se encontra explicitada, nem sequer porque existe algum tipo de entidade reguladora que garanta a fiabilidade de conteúdos - sabemos que tal é praticamente impossível…
Em primeiro lugar quem deve autenticar os conteúdos abertos, deve ser quem os produz, garantindo, através do seu trabalho e de provas dadas de rigor, que merece a credibilidade de quem consulta a sua obra. Em segundo lugar, quem valida a produção de conteúdos é a comunidade de utilizadores que confere valor, através da sua consulta e da exploração desses recursos, e autenticidade à obra disponibilizada. Os melhores recursos abertos são frequentemente citados ou mostrados como exemplos, ou ainda explorados para serem ampliados ou transformados em novos conteúdos; tal facto valida, certifica, confere autenticidade.
Ao longo desta reflexão considerou-se muitas vezes a importância da existência de recursos abertos que possam ser consultados no sentido de produzir e ampliar a informação. Mas será que esta exposição livre de informação não potencia a fraude intelectual, o plágio? Claro que sim… No entanto o plágio sempre existiu… Tal não significa que não existam regras e leis que defendem a propriedade intelectual e que a utilização da Internet até simplifique a identificação do plagiador; as ferramentas de busca são cada vez mais eficazes para a detecção de fraudes.
Cabe a todos nós desenvolvermos uma atitude cívica, responsável, face aos direitos autorais e assumirmos determinadas regras de conduta que determinem a boa fé aquando a utilização dos conteúdos de outrem.
A Internet é um local seguro para a recolha de informações? A resposta a esta questão depende da abordagem que quisermos fazer desta problemática; se por um lado, todos gostaríamos de ter uma entidade reguladora de todas as publicações que diariamente surgem no ciberespaço, o que é literalmente impraticável, por outro lado, temos de pensar que o ser humano não é de todo imparcial e honesto e tal controlo poderia sugerir a colocação em causa da liberdade de expressão e acesso à informação por algumas atitudes mais fundamentalistas. O controlo da informação passa muito pelos utilizadores da mesma, na medida em que se tornam responsáveis pela validação que fazem dos conteúdos que visitam. É nesta cultura de selecção da informação que devemos apostar e que devemos investir… É muito importante inculcar na mentalidade dos utilizadores da Internet a necessidade da criação de códigos de ética que permitam uma consulta responsável dos conteúdos disponibilizados na rede. A segurança da rede depende muito de cada um de nós… Quando procuramos o perigo ele manifesta-se… Quando o evitamos e nos protegemos assumindo uma postura cautelosa e responsável, o perigo não será tão evidente…


Referências bibliográficas
  • Lévy, P. O Que é o Virtual. São Paulo, Editora 34, 1996.
  • Goffman, E. A representação do eu na vida cotidiana. Vozes, 2003.

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